Fornadjeras da Ribeira de Principal : Poder, resistência e identidade feminina no espaço de produçao
Keywords:
fornadja, género, trabalho, emigração, poder, espaço públicoSynopsis
Na Ribeira de Principal – localidade rural agrícola e de abundante produção do grogue as mulheres começam a adquirir uma centralidade, cada vez maior, no espaço público de produção, pois, aparecem ocupando espaços de organização socio-económicos tradicionalmente masculina. Por isso, questiono como se processa a configuração do espaço público e privado com a saída masculina do espaço de produção da “fornadja” e a entrada da mulher nesse espaço. Observei que a incorporação significativa de mulheres no espaço público de produção remunerado fez com que o trabalho, a família e o mercado de trabalho passassem por profundas transformações, nestes últimos trinta anos na comunidade. A entrada de mulheres como força de trabalho remunerada deve-se, de um lado, à emigração masculina para a Europa e, por outro lado, ao desempenho de outras actividades laborais fora do espaço agrícola e, por vezes, fora da comunidade. Esta situação trouxe transformações que se vêem, principalmente, no papel de cada um desses sujeitos, nas relações que se estabelecem dentro do grupo doméstico, no espaço da produção e na própria construção simbólica dos sujeitos sociais. As mulheres, ao articularem as experiências da vida privada com as do espaço público, questionam a hierarquia de género, não só no grupo doméstico, mas, também, no espaço de produção, pois, o trabalho das “fornadjeras” permite a articulação do mundo privado com o mundo público, rompendo com
os protótipos de fixação das mulheres nos espaços privados. Na comunidade de Principal, as mulheres inseriram no espaço de produção da “fornadja”, num primeiro momento para apoiar a provisão do grupo doméstico e, num segundo momento, como uma forma de afirmação da sua identidade nesse espaço enquanto sujeito político no espaço público. Pois, a sua presença não se limita a de “ajudante” do membro masculino no grupo doméstico, mas de produtora de grogue e sujeito activo nas
relações comerciais que se estabelecem nas “fornadjas”.
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